sábado, março 10, 2007

Pessoas que moram ao longe


Outro dia estava voltando de uma viagem, já era tarde da noite, o avião sobrevoava algum lugar a caminho de casa. Da janela pude visualizar algumas luzes bem distantes, amareladas, pareciam jogados num meio entre o nada, o vazio e a solidão.

Por um momento, parei para pensar no quanto os moradores daquelas casas, que erradiavam aqueles filetes perdidos de luz estavam distantes das demais, no mais profundo isolamento em que o vizinho mais próximo não está lá para acudí-lo em momentos de desespero ou incomodá-lo em momentos de tranquilidade.

Em todo caso, não foi isto que me chamou a atenção, que me fez questionar por uns segundos. O que me instigou é que descobri que havia perdido parte de uma essência. O encanto e a percepção para algumas coisas simples, pensamentos longínquos, pontuais, quase sem sentido, as coisas corriqueiras do dia a dia, uma comparação profunda, o ponto de luz na escuridão, que eu nunca percebera.

Sempre viajei na janela, é um pedido que gosto de fazer, fico feliz quando atendido, mas não sei o porque, pois passo a viagem inteira dormindo. Este dia foi um pouco diferente. Entre um lapso de consciência e sonolência, vi esta cena, aqueles pingos de luz.

Inferi então que cada uma das opacas luzes lá embaixo poderiam representar a geografia da vida, por exemplo, hoje estou distante de mim, um ponto na imensidão das reflexões perdidas. Talvez, aquele ponto perdido no breu não seja uma moradia. Talvez seja um dos meus pensamentos e o vizinho mais próximo, um dos seus.

Depois disso, voltei a dormir.

Um comentário:

Lilian Barbosa disse...

O bom de ficar na janela é saber que a visão não está limitada a um único cenário. Saber que se pode olhar além, deixar a mente fluir conforme a vista lá fora. Lembranças podem vir à tona, pensamentos inquietantes, reflexivos insistem em surgir.
A analogia sobre os pontos de luz é bastante adequada. Cada pingo de luz solitário representa um fato isolado, uma memória contida, um pensamento ao acaso. São coisas simples, mas que sempre remetem a uma avaliação sobre como o tempo passa, como as coisas passam... Pensamentos que vem e se vão. E o que permanece é aquilo que de alguma forma estivemos procurando, ainda que inconsciente.
Pensamentos e pensamentos... Caramba! Isso às vezes me assusta... rs.

Excelente texto, E-corn! Muito bom mesmo! =)